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Árvores singulares: Tributo vivo à cultura, à afetividade e à memória – Veduta 15
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FDA após a recuperação, maio 2015
FDA após a recuperação, maio 2015
O Freixo representado por Duarte de Armas, 1510
O Freixo representado por Duarte de Armas, 1510
FDA após a recuperação, maio 2015
FDA após a recuperação, maio 2015
Sobreiro antes da intervenção cirúrgica
Sobreiro antes da intervenção cirúrgica
Sobreiro no parque Natureza e Biodiversidade, Boticas, outubro 2021
Sobreiro no parque Natureza e Biodiversidade, Boticas, outubro 2021
Representação da colocação de varões na cavidade
Representação da colocação de varões na cavidade
Espinheiro após intervenção, outubro 2021
Espinheiro após intervenção, outubro 2021
Freixo de Vale da Ribeira (Celorico da Beira), março 2020
Freixo de Vale da Ribeira (Celorico da Beira), março 2020
Espinheiro após intervenção, outubro 2021
Espinheiro após intervenção, outubro 2021

Árvores singulares: Tributo vivo à cultura, à afetividade e à memória

Luís Miguel Martins

A ligação afetiva do Homem às árvores é intrínseca ao resquício da memória onde a sobrevivência e aventura na busca de alimento faziam parte do quotidiano. Essa ligação é mais vincada nos exemplares mais velhos por poderem guardam memórias a episódios com vínculos pessoais ou a toda uma comunidade.

FDA após a recuperação, maio 2015

Nesta comunicação são apresentados cinco exemplos, que pelo seu caráter singular tem uma importância que extravasa os circuitos de quem melhor os conhece (Freixo Duarte de Armas; Sobreiro do Parque Natureza e Biodiversidade; Espinheiro de Boticas; Freixo de Vale da Ribeira; Pérgula de Penacova). A abordagem tem um cariz técnico, para dar a conhecer ao leitor a fundamentação das intervenções, mas pretende ser suficientemente clara, designadamente com o recurso a imagens ou esquemas elucidativos. Pelos resultados explanados, permite perceber-se o quão gratas ficaram as árvores às ações desenvolvidas, e como os acréscimos nos seus benefícios sociais, patrimoniais, ambientais ou paisagísticos foram efetivos e passíveis de ser demonstrados. Os exemplos apresentados são sobretudo uma mostra de como as ações ajustadas a cada caso, potenciam a resposta generosa das árvores, que tanto dão recebendo tão pouco. São também uma mostra inequívoca da importância que o cidadão dá à árvore como entidade ou indivíduo de caraterísticas específicas, e de como a sua preservação é também um contributo à felicidade e autoestima de um povo.

O Freixo representado por Duarte de Armas, 1510

Freixo duarte de armas: a história e recuperação da árvore

O estudo e a intervenção no Freixo

O freixo (Fraxinus angustifolia Vahl) classificado de interesse público (DR nº.12, 17/01/2019) com cerca de 550 anos localiza-se na área histórica de Freixo de Espada à Cinta (FEC). A árvore e FEC confundem-se devido ao nome e à longevidade de ambos, embora a localidade seja bem mais velha, sendo até mais antiga que a fundação de Portugal independente. Na verdade, a história do Freixo Duarte de Armas (FDA) só se inicia com o seu registo em 1510 no Livro das Fortalezas, por Duarte de Armas. O escudeiro do Rei D. Manuel I representou, junto à muralha, o freixo que viveu até aos nossos dias. Assim, e para realçar a sua importância, bem como o trabalho do debuxador, foi desenvolvido um projeto para a sua Preservação, Valorização e Divulgação (Martins et al., 2017a; b).

A recuperação do FDA, 2015

O estudo compreendeu todo enquadramento geográfico e histórico da vila de FEC, das lendas associadas à vila e ao freixo e da vida e obra de Duarte de Armas. O trabalho foi também direcionado para o local onde se insere a árvore e para análise macro e microscópica que contribuíram para a melhor caraterização possível do FDA (Madeira et al., 2016).

O conhecimento desenvolvido permitiu aprofundar e fundamentar o diagnóstico da condição da árvore e desenvolver um conjunto de tarefas visando a sua recuperação e manutenção sustentadas. Considerou-se também relevante a apreciação sociológica sobre a forma como os freixenistas encararam as intervenções. A análise social é também colocada, mas na perspetiva desprendida da comunicação social que pode acompanhar o estudo.

 

 

Avaliação Patrimonial

Dado o caráter histórico e importância do FDA decidiu-se determinar o seu valor patrimonial através da aplicação da Norma Granada (Martins et al., 2017c). Trata-se de um método de valorização de árvores já muito comum na Europa. Sucintamente, a Norma, implementada desde 1999 (AEPJP, 2015), consiste no uso da equação de Richard’s que considera o padrão de crescimento e longevidade da árvore, partindo do valor e dimensão da maior planta de viveiro da mesma espécie (AEPJP, 2015). O valor final (VF) da árvore é determinado pela equação.

 

 

VF = (Vb.Els)*(1+Ele+Eli)

 

Onde

VF = Valor final

Vb = Valor base

Ele = Fatores extrínsecos (0-2.5)

Els = Fatores intrínsecos (0-2)

Eli = Expetativa de vida (0-0.5)

 

 

Nesta avaliação, foi calculado o valor base de 65.150€, considerando o perímetro à altura do peito (PAP; 1,30m) de uma árvore de viveiro (20 cm) e o PAP do FDA (380cm). O valor de 220€ de um freixo de viveiro em contentor é indicado por INFO (2017). No valor são assumidos os custos em transporte, plantação e manutenção durante um ano (Martins et al., 2017c).

Atendendo à atual condição fitossanitária do FDA o valor de Els é de 0,70 (Raízes = 1; Tronco = 0,5; Pernadas = 0,5; ramos e raminhos = 0,5; Folhas e copa = 1.0). O de Ele é elevado (2,5) pois resulta do somatório dos ponderadores da estética e funcionalidade (Ele1 = 0,25), a sua representatividade e raridade (Ele2= 1); a sua situação e posicionamento (Ele3 = 1) e os fatores extraordinários, ponderados no máximo, pois trata-se de uma árvore de caráter histórico (Ele4= 0,25).

Foi ainda considerada a expetativa de vida útil desta árvore, atendendo à sua atual condição fitossanitária, perspetivando-se que atinja pelo menos 600 anos (Eli=0,034).

O valor atual do FDA é assim próximo de 162.200€, ficando demonstrado que a elevada afeição dos freixenistas com o FDA tem uma sustentação económica muito relevante. Acresce que as intervenções que ocorreram o longo de 2015 e 2016 (Martins et al., 2017), deram um contributo significativo à valorização deste património vivo. Mesmo assim, a condição atual do tronco e pernadas, por ainda terem patologias e oferecerem cuidados especiais, baixam a expetativa de vida e valor final do FDA (Martins et al., 2017c).

FDA após a recuperação, maio 2015

 

Recuperação e clonagem do Freixo

Todo o conjunto de procedimentos culminaram na melhoria da condição global da árvore histórica e permitiram a sua propagação seminal e clonal. O primeiro clone do FDA, plantado nos jardins do Palácio de Belém, em 21 de março de 2017, constitui um marco muito efetivo para a preservação da memória e da ligação afetiva deste importante património vivo (Martins et al., 2017a; b).

O conjunto das ações deram um contributo indelével para o orgulho dos freixenistas sobre a sua terra e árvore histórica e privilegia um melhor reconhecimento global da relevância da vila de FEC (Martins et al., 2017a; b).

Freixo Duarte de Armas nos jardins do Palácio de Belém, março 2017

Sobreiro no parque natureza e biodiversidade

 

Diagnóstico

O sobreiro (Quercus suber L.) alvo de intervenção localiza-se no “Parque Natureza e Biodiversidade” próximo de Boticas. A sua posição é essencial para o enriquecimento paisagístico do local, dando um contributo valioso à visitação.

Infelizmente a árvore encontrava-se muito maltratada e a queda de um ramo devido a uma codominância dilacerou grande parte do tronco. Isso iria inviabilizar a manutenção desta árvore por muito mais tempo devido ao risco acentuado para pessoas ou bens. O tronco com uma codominância não tinha resistência estrutural para suportar a copa (Martins, 2012).

Sobreiro antes da intervenção cirúrgica

 

Intervenção

A intervenção na copa foi realizada em março de 2012. Houve corte de ramos entrelaçados e densos, mas respeitando sempre a arquitetura natural da copa (Martins, 2012).

Intervenção na copa. A instalação prévia de uma cinta já a estrangular os ramos, era ineficaz para a estabilização da árvore. À direita, os sobrantes da poda, cerca de 1/3 da copa

A copa foi estabilizada com cabos de aço nas pernadas estruturais, nos quais foram colocados os cabos em ângulos aproximadamente retos. Os pontos de entrada dos cabos foram descortiçados com um formão e colocados cerra-cabos no extremo dos furos. Para manter a tensão no ramo, antes do aperto final do cabo usou-se uma cinta com ajuste do aperto (Martins, 2012).

Aspeto global após intervenção, já com a copa estabilizada com cabos de aço

O interior do tronco do sobreiro estava afetado por uma podridão branca, tendo ainda ataques intensos de formigas e outros insetos xilófilos. Para a extirpação do cancro procedeu-se primeiro à remoção física de todo o material solto. Posteriormente, com a ajuda de formão e motosserra limpou-se todo o material afetado quer pela podridão quer pelos insetos (Martins, 2012).

Para a estabilização do tronco colocaram-se varões aparafusados, com as anilhas junto ao câmbio da árvore.

Limpeza da cavidade e perfuração do tronco para a colocação de varões roscados

Condição atual do Sobreiro

Os resultados da intervenção no sobreiro indicam-se fotos seguintes.

Tronco do sobreiro com cavidade praticamente “sarada” e fecho da casca na área de perfuração, 2014-2021

Sobreiro no parque Natureza e Biodiversidade, Boticas, outubro 2021

Sobreiro dois anos após a intervenção, 2014

Espinheiro em boticas

O espinheiro-da-Virgínia (Gleditsia triacanthos) em Boticas, é uma árvore classificada de interesse público (DR n.º 274, 26/12/1988). Está localizada em Boticas, perto do santuário de São Cristóvão.

Devido à fragilidade e por se encontrar em condição de risco foram efetuadas um conjunto de intervenções na copa e cavidade. As intervenções decorreram em janeiro de 2018. Envolveram cortes cirúrgicos e estabilização das pernadas e cavidades com diferentes sistemas de ancoragem (Martins e Machado, 2018; Martins et al., 2018).

O espinheiro-da-Virgínia é uma árvore de origem Norte Americana, da espécie Gleditsia triacanthos L. e família Fabaceae. É também conhecida como acácia-triacantos ou acácia-de-três-espinhos. O restritivo específico triacanthos deve-se à forma dos espinhos que surgem nos ramos e tronco. Há, contudo, exemplares sem espinhos, como a Gleditsia triacanthos cv. Inermis (U. Évora, 2018).

Trata-se de uma árvore de crescimento rápido, exótica em Portugal, caducifólia, podendo atingir 25-30 m altura. Os ramos, sobretudo os inferiores têm espinhos simples e trífidos, atingem o comprimento até 15 cm.

A árvore é fixadora de azoto nos solos. Vegeta bem em solos bem drenados e profundos e é relativamente plástica no que respeita ao clima. Tem folhas alternas, compostas com folíolos oblongo-lanceolados, verde médio tornando-se no Outono amarelas

As flores são em cachos, esverdeadas, nos ramos do ano anterior sem interesse ornamental, abril-maio. Os frutos são vagens, pendentes, espalmadas e retorcidas com 20 a 45 cm de comprimento e 2-4,5 cm de largura, castanhas escuras. Os frutos podem permanecer na árvore durante o inverno.

O diagnóstico efetuado em outubro de 2017 permitiu perceber a condição global débil da árvore (Martins e Machado, 2018). A copa estava desequilibrada, com pernadas inseguras pois cresceram após rolagem baixa. A ligação das pernadas ao tronco é frágil não só porque estão ancoradas apenas na periferia como também devido aos cancros e cavidades que existe na inserção.

Árvore em estudo (Gleditsia triacanthos) com pernadas inseguras e tronco muito danificado

Na avaliação foram considerados os fatores de predisposição e indução, relativos à espiral de declínio de Manion (1991). Ou seja, com efeitos na condição da árvore quer a longo quer a médio/curto prazo.

O exemplar estava afetado na copa e tronco por ter sido atingido por um raio durante uma trovoada. Os danos no lenho foram profundos e com impactes difíceis de reparar. A cavidade no tronco veio a ficar afetada com podridão cúbica castanha. Tem exposição a sul e mede 5,4 m na direção axial (Martins e Machado, 2018).

Além do raio a árvore sofreu uma rolagem à altura aproximada de 6 m. Disso resultou uma infeção que se desce desde a inserção das pernadas e atinge grande parte do tronco. A raiz principal também deve estar afetada devido à queima e à infeção que desceu pela parte interna do tronco.

 

Intervenção

O espinheiro foi primeiro estabilizado ao nível da copa, com cortes dos ramos compridos. A altura e diâmetro da copa diminuíram, bem como o respetivo volume. Contudo, não foram efetuados atarraques e sendo assim os ramos podem continuar a expandir para o exterior, com possibilidade também de preencher o interior da copa (Martins et al., 2018).

Uma das pernadas verticais foi cortada, diminuindo-se assim a pressão sobre a cavidade. Apesar dos cortes e diminuição do volume, peso e resistência ao vento, as pernadas foram ancoradas com cabo de aço (6mm) tencionado com esticadores. Os cabos foram fixos através de parafusos com rosca de madeira, colocados nas várias pernadas. Ligaram-se também duas pernadas com varões roscados (12 mm).

Imagem da árvore, antes e após a intervenção

Representação da colocação de varões na cavidade

Toda a cavidade do tronco foi limpa e retirado todo o material apodrecido sem atingir os saudáveis. A estrutura da cavidade foi melhorada com varões roscados (Ø 12 mm) que atravessam o seu diâmetro unem as partes de lenho são, através de anilhas e porcas (Martins et al., 2018). Os varões foram também ser enroscados no lenho interior.

Representação da colocação de varões na cavidade

Avaliação Patrimonial

Devido à importância da árvore decidiu-se determinar o seu valor patrimonial através da aplicação da Norma Granada.

Para o caso da árvore estudo e atendendo ao local onde se encontra, consideramos que tem uma taxa de crescimento rápido e tem grande longevidade. Nesta avaliação, foi calculado o valor base (Vb) de 32.200€, considerando o perímetro à altura do peito (PAP; 1,30m) de uma árvore de viveiro da mesma espécie (20 cm) e o PAP da árvore que estamos a considerar (375 cm). Consideramos o valor de 75€ da árvore de viveiro, onde estão incluídos os custos de transporte e plantação (Info, 2018). Pela atual condição fitossanitária do Fd’A o valor de Els é de 1,00 (Raízes = 1,0; Tronco = 0,5; Pernadas = 0,5; Ramos = 1,53; Folhas e copa = 1.5).

Espinheiro após intervenção, outubro 2021

Ele tem o valor de 1,15. Deve-se à estética e funcionalidade (Ele1 = 0,10); Representatividade e raridade, valor intermédio devido à raridade da espécie em Portugal (Ele2= 0.4); Posicionamento (Ele3 = 0.5); Fatores extraordinários, árvore de interesse público (Ele4= 0,15). Na expetativa de vida útil da árvore, atendeu-se à sua atual condição fitossanitária, perspetivando-se que atinja pelo menos 170 anos (Eli=0,11). O valor atual da árvore é assim próximo de 72.700 €.

 

 

 

 

Condição atual do Espinheiro

O exemplar intervencionado recuperou a sua anterior silhueta e tem presentemente a copa estabilizada. A degradação do lenho na área da cavidade aparentemente está mais lenta parecendo pela compartimentação dos bordos da cavidade que houve mesmo regressão da infeção.

Pormenor de varões de estabilização da cavidade, outubro 2021

O freixo de Vale da Ribeira

Diagnóstico

O freixo (Fraxinus angustifolia) de vale da ribeira, na freguesia de Mesquitela do concelho de Celorico da Beira, é muito acarinhado pelas gentes da aldeia e de quem a visita (Martins e Magrini, 2021). É um exemplar com cerca de 300 anos e já a sofrer de algumas maleitas devido à avançada idade e também pelo corte de uma grande pernada que veio a permitir desenvolver infeções e uma grande cavidade no tronco.

Freixo de Vale da Ribeira (Celorico da Beira), março 2020

 

Intervenção

De março a maio de 2021 foram realizadas as seguintes intervenções (Martins e Magrini, 2021):

  1. Por raspagem retiraram-se o excesso de líquenes (musgos) e trepadeiras do tronco e pernadas;
  2. Procedeu-se à limpeza do interior das cavidades com remoção do lenho solto e degradado, com podridão cúbica castanha ou podridão branca, sem danificar os tecidos saudáveis;
  3. As cavidades das pernadas foram desobstruídas permitindo o arejamento e a drenagem para o interior do tronco;
  4. Os bordos das cavidades foram arredondados para uma melhor compartimentação a partir da zona cambial;
  5. Fez-se a remoção da zona do colo do material lenhoso até à profundidade possível;
  6. A área do colo foi cheia com uma mistura de terra e turfa fina de granulometria grosseira.
Estrutura metálica no interior da cavidade do tronco e enchimento da mesma com uma mistura de terra, turfa e brita

Condição atual do Freixo e requalificação do local

O Freixo de Vale da Ribeira teve uma resposta fisiológica muito positiva à intervenção. Acresce que a zona próxima da árvore foi alvo de uma requalificação. Foi criado um projeto que contemplasse a melhoria da condição às raízes da árvore e valorizasse paisagisticamente o local e conforto como área de lazer, tanto para os residentes como para os visitantes.

Projeto de arquitetura (Arq. Inês Lopes, Mun. Celorico da Beira, 2021) e obra de valorização da árvore e área envolvente

Pégula da penacova

Bem no centro de Penacova, junto ao edifício dos Paços do Concelho, ergue-se a Pérgula Raúl Lino que comemorou em 2018, cem anos sobre a sua inauguração.

A Pérgula, desenhada por Raúl Lino, admirador profundo da paisagem penacovense foi oferecida, em 1918 pela Sociedade de Propaganda de Portugal, ao povo de Penacova. Esta agradável varanda coberta por velhas glicínias permite avistar o rio Mondego, para jusante, até à curva da Rebordosa, e contemplar uma das paisagens mais icónicas do concelho (www.cm-penacova.pt).

Cartaz comemorativo dos 100 anos da “Pérgula de Penacova”, março 2018

A glicínia é uma trepadeira volúvel (Wisteria floribunda, W. macrostachya nativas do Japão ou Wisteria sinensis, nativa da China), lenhosa e decídua, de florescimento muito decorativo. Suas folhas são pinadas, alternas e compostas por 9 a 19 folíolos, de coloração avermelhada e pubescentes quando novas, tornando-se glabras e verde-brilhantes com o tempo. As inflorescências são longas, pendulares e carregadas de numerosas flores azuis, róseas, brancas ou roxas. Os frutos são vagens compridas e acastanhados com sementes de 1 cm. Ocorrem também variedades de porte diferente e de folhas variegadas.

O crescimento é lento a moderado e pode levar anos para que se torne adulta e inicie o florescimento, porém é muito longeva, vivendo até mais de 100 anos. É muito adequada para cobrir arcos, pérgulas, portões e caramanchões conferindo um ar romântico e nobre à paisagem. Por ser vigorosa não é indicada para estruturas de apoio frágeis. Também pode ser conduzida como arvoreta, constituindo-se por um tronco ondulado e uma copa aplainada. A época de floração oscila de acordo com o clima e a região onde está estabelecida.

As glicínias devem ser cultivadas sob pleno sol, em solo fértil, rico em matéria orgânica e com regas regulares. Necessita de ser tutorada, adubação e podas anuais. Aprecia o frio, sendo indicada para locais de clima subtropical ou mediterrâneo. Em regiões quentes pode ser cultivada sem problemas, mas não terá o mesmo desempenho.

 

Diagnóstico e intervenção

A inegável importância do monumento e da escultura viva que é a glicínia que cobre a infraestrutura de madeira justificou um conjunto de ações desenvolvidas.

Na tabela são apresentados os parâmetros dendrométricos da glicínia. É notória a dimensão extraordinária da trepadeira, quer pelo perímetro do tronco quer pela dimensão das pernadas (Martins e Machado, 2018).

O tronco estava muito danificado. Passa-se o mesmo com as primeiras pernadas. Além dos sintomas observados detetaram-se sinais de fungos e de diversos animais.

A cavidade do tronco foi limpa, com o cuidado de não atingir os tecidos saudáveis. Desenvolveram-se as seguintes tarefas (Martins e Machado, 2018):

  1. Remoção do lenho apodrecido na cavidade do tronco;
  2. Remoção do lenho apodrecido nas cavidades das pernadas;
  3. Limpeza da podridão da cavidade da glicínia, quer no tronco quer nas pernadas;
  4. Remoção das podridões abaixo do tronco;
  5. Estabilização de uma pernada com ligação de duas cintas à pérgula.
Tronco de glicínia após remoção da área apodrecida

A cavidade foi tratada com fungicida de largo espectro – calda bordalesa. Além do sulfato de cobre de ação fungicida, nematodicida e inseticida, o produto é neutralizado com hidróxido de cálcio. O cálcio é um macronutriente que dá mais resistência planta e ajuda no processo de compartimentação dos tecidos (Martins e Machado, 2018).

O tronco foi posteriormente estabilizado com uma estrutura armada, pois toda a área interior estava apodrecida e em avançado declínio.

Espinheiro após intervenção, outubro 2021

Estrutura armada na cavidade do tronco da glicínia, março 2018

Na estrutura usaram-se ferros de 16 mm de diâmetro, que foram espetados no solo, encostados à parte interna do tronco. Próximo da superfície foram soldados ferros em cruz. Ao logo da parte interna do tronco os ferros foram sendo moldados de acordo com a estrutura do tronco e ligados entre si por uma chapa de ferro (3×30 mm). A estrutura foi aparafusada à periferia do lenho e soldada internamente.

Durante as operações de soldadura houve sempre o cuidado de colocar água junto ao lenho para evitar o sobreaquecimento dos tecidos (Martins e Machado, 2018).

Representação esquemática da colocação de armação metálica no tronco

Toda a parte interior da raiz principal estava apodrecida. Assim, foi removido todo o material lenhoso solto dessa zona do colo. A área a descoberto foi então preenchida com terra vegetal de modo a promover o lançamento de novas raízes (Martins e Machado, 2018).

A “Pérgula de Penacova” com vista deslumbrante para o rio Mondego. Representação da área onde o solo deve ser permeável, 2018

Avaliação Patrimonial

No caso da pérgula deste estudo, e atendendo ao local onde se encontra, consideramos que tem uma taxa de crescimento rápido e longevidade média. Nesta avaliação, foi calculado o valor base (Vb), considerando tratar-se de um exemplar não substituível. O valor inicial parte assim de uma base que consideram os custos de uma nova plantação e as dimensões da árvore de viveiro e a taxa de crescimento. Neste caso, consideramos o perímetro à altura do peito (PAP; 1,30m) de um exemplar de viveiro da mesma espécie (20 cm) e o PAP das árvores que estamos a considerar. Consideramos o valor de 60€, onde estão incluídos os custos de transporte e plantação (Info, 2018).

Nesta avaliação são penalizadas as patologias do tronco e pernadas e impermeabilização do solo. O valor final da glicínia de acordo com a Norma Granada é indicado na tabela.

Condição atual da Pérgula

A glicínia alvo da intervenção é notável pelas suas dimensões, idade, valor histórico e pela importância da Pérgula que cobre a varanda de 32 m, com uma vista deslumbrante para o rio Mondego.

A ação efetuada justificou-se dada a grande podridão do tronco sua instabilidade. Isso obrigou a retirar muito do lenho apodrecido pois só estava a contribuir para a infeção atingir o lenho são e desse modo diminuir a longevidade da trepadeira.

A “Pérgula de Penacova” em 2017 e após a intervenção, 2020

 
AEPJP. 2015. Valoracion de arboles ornamentarles – Norma Granada. Asociación Española de Parques y Jardines Públicos; Asociación Española de ArboriculturaInfo. 2018. Preço de árvores de viveiro – Disponível aquiManion, P.D. 1991. Tree Disease Concepts Prentice-Hall Inc.Câmara Municipal de Penacova. 2018 – Disponível aquiMadeira, S. LM Martins e J. J. Sousa. 2016. Levantamentos UAV no apoio ao projeto para a “Melhoria da condição envolvente ao Freixo Duarte d’ Armas”. In: I Seminário Internacional UAV, Lisboa, 3-4 março, pp 93-102.Martins, L. M. 2012. Cirurgia em sobreiro – Boticas Parque – Natureza e Biodiversidade. Vila Real, UTAD, abril, 9 pp.Martins, L. M., C. A. Silva, H. Sousa, A. Mariano, S. Madeira, A.P. Sintra, F. Leal, J. Ferreira-Cardoso, J. Duarte, A. Rodrigues e M. C. Quintas. 2017a. O Freixo Duarte de Armas: a história e recuperação da árvore. In: 8º Congresso Florestal Nacional, Viana do Castelo, 11-14 outubro, pp. 241.

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