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Introdução
Encetar uma análise dos primeiros cinco anos do projeto “Pergunta ao Tempo”, da Casa da Memória de Guimarães, revelou-se um duplo, mas estimulante, desafio: por um lado, pelas características do projeto e do seu percurso desde a origem, no ano letivo de 2016/2017, podendo ser instigador de um estudo na linha de investigação em Educação Patrimonial; por outro lado, pelas suas particularidades, pois embora se trate de um projeto dinamizado por uma entidade ligada à educação não formal, este dirige-se ao publico escolar, nomeadamente às turmas do 4.º ano do 1.º ciclo do ensino básico, dos agrupamentos escolares do município de Guimarães, realizando-se ao longo do ano letivo e suscitando uma articulação/parceria enriquecedora entre as duas áreas.
Durante o processo de recolha de informação produzida pela Casa da Memória para o planeamento, concretização e divulgação do programa do “Pergunta ao Tempo” em cada um desses cinco anos letivos (2016/17 a 2020/21), para posterior análise e avaliação do desenvolvimento do projeto, objeto da presente investigação, procedeu-se a uma revisão de literatura ao nível da linha de investigação em Educação Patrimonial, nomeadamente no que respeita a programas relacionados com o património cultural imaterial, mas sem esquecer a materialidade dos objetos e espaços que lhe estão sempre inerentes, e a sua relação com a educação com o património e para o património, num sentido mais lato.
A presente pesquisa, no sentido de uma fundamentação teórica e metodológica de um estudo com enfoque no projeto “Pergunta ao Tempo”, permitiu, ainda, constatar a existência de trabalhos de mestrado (Marques, 2018) e de doutoramento (Siebert, 2019), que incluíram uma análise de atividades realizadas no âmbito do projeto, sobretudo no segundo ano da sua implementação.
É de notar, ainda, que os dois últimos anos letivos objeto de análise neste estudo (2019/2020 e 2020/2021) coincidiram com a pandemia de Covid-19 e, tal como aconteceu com as instituições culturais e educativas, e em muitos outros setores, os constrangimentos relacionados com os confinamentos prolongados, sobretudo a partir de março de 2020 e entre janeiro e abril de 2021, refletiram-se também no projeto “Pergunta ao Tempo” e suscitaram novas adaptações nos procedimentos, acompanhamento e apresentação de trabalhos. Assim, a análise de cada um dos cinco anos objeto da presente investigação tem em atenção as mudanças e permanências que se verificam ao longo das várias fases/anos de implementação do projeto.
Abre-se esta reflexão com uma notícia recente, a da aprovação de uma nova definição de Museu na Assembleia Geral Extraordinária do ICOM, em Praga, no dia 24 de agosto 2022:
Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade, que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o património material e imaterial. Os museus, abertos ao público, acessíveis e inclusivos, fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Os museus funcionam e comunicam ética, profissionalmente e, com a participação das comunidades, proporcionam experiências diversas de educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimento.
Está bem patente, nesta definição, a relação do museu, não só com o património material – móvel e imóvel – mas também com o intangível, o imaterial, relativamente ao qual a participação das comunidades assume um papel fundamental de partilha de saberes-fazer.
De acordo com o artigo 2º: da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial (UNESCO, 2003), o património cultural imaterial é constituído pelas práticas, representações, expressões, conhecimentos e competências – bem como os instrumentos, objetos, artefactos e espaços culturais que lhes estão associados – que as comunidades, grupos e, eventualmente, indivíduos reconhecem como fazendo parte do seu património cultural. Este património cultural imaterial, transmitido de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função do seu meio envolvente, da sua interação com a natureza e da sua história, e confere-lhes um sentido de identidade e de continuidade, contribuindo assim para promover o respeito pela diversidade cultural e a criatividade humana. Salienta-se, ainda, que este deve ser compatível com os instrumentos internacionais relativos aos direitos humanos existentes, bem como com a exigência de respeito mútuo entre comunidades, grupos e indivíduos, e de um desenvolvimento sustentável. O património cultural imaterial assim definido manifesta-se em: (a) tradições e expressões orais, incluindo a língua como vetor do património cultural imaterial; (b) artes do espetáculo; (c) práticas sociais, rituais e atos festivos; (d) conhecimentos e usos relacionados com a natureza e o universo; (e) técnicas artesanais tradicionais (UNESCO, 2003).
Entre os objetivos da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, destacamos a sensibilização, a nível local, nacional e internacional, para a importância do património cultural imaterial e do seu reconhecimento mútuo. Para tal, devem adotar-se medidas de salvaguarda, tais como a identificação, documentação, investigação, preservação, proteção, promoção, valorização, transmissão – essencialmente pela educação formal e não formal – e revitalização dos diversos aspetos deste património (UNESCO, 2003).
Nesta linha, não podemos deixar de mencionar o papel do Conselho da Europa, nomeadamente através da “Council of Europe Framework Convention on the Value of Cultural Heritage for Society” (Council of Europe, 2005)1 – conhecida como Convenção de Faro (Council of Europe, 2018) – ao defender o papel do património cultural na edificação de uma sociedade pacífica e democrática, bem como no processo de desenvolvimento sustentável e de promoção da diversidade cultural. Também aqui se salienta a importância de as partes envolvidas se comprometerem a facilitar a inclusão da dimensão patrimonial cultural em todos os níveis de ensino, não necessariamente como objeto de estudos específicos, mas como meio propício ao acesso a outros domínios do conhecimento (Art.13). Promove-se, assim, uma compreensão mais ampla do património e da sua relação com as comunidades e com a sociedade, incentivando os cidadãos a reconhecer a importância dos objetos e dos locais que constituem o património cultural, através do significado e dos valores que representam (Direção-Geral do Património Cultural, 2021).
Já na Convenção sobre a Proteção do Património Cultural e Natural Mundial (UNESCO, 1972) se considerava que os Estados Partes deveriam, por todos os meios apropriados, e em particular através de programas educativos e de informação, envidar todos os esforços para estimular o respeito e a valorização do património cultural e natural entre os seus povos (Art. 27). A proteção do património vai para além do bem em si, abrangendo um sistema complexo de valores que o rodeiam e lhe dão significado. É, por isso, clara a necessidade de educação e de sensibilização como dimensões fundamentais para salvaguardar elementos de um património que necessita da participação da comunidade para a sua continuidade e desenvolvimento. Assim, a educação torna-se o instrumento que permite conectar os cidadãos à sua diversidade cultural e ao seu ambiente social, trabalhando a partir dos valores culturais locais mais próximos das pessoas, para depois projetar valores mais universais.
Quase na viragem do século, a “Recommendation No. R (98) 5 concerning heritage education” do Conselho da Europa fazia referência à importância da formação de professores em Educação Patrimonial e a correlação que deve existir entre esta formação e os currículos escolares, assim como à necessidade de avaliação das práticas educativas no âmbito da Educação Patrimonial em todos os níveis de gestão educativa (Council of Europe, 1998).
A própria conceptualização da Educação Patrimonial tem conhecido, desde a década de 1990, uma evolução no sentido de uma fundamentação mais consistente: se inicialmente se reconhecia uma divisão entre educação sobre o património, que tinha a função de transmitir conteúdos patrimoniais, e educação através do património, onde o património era utilizado como um recurso interdisciplinar para o ensino (Copeland, 1991), esta classificação começa dar lugar à compreensão da Educação Patrimonial como um processo vinculativo, relacional e experiencial entre o bem cultural e a pessoa (Fontal, 2003, 2013) que é capaz de atribuir valor aos bens culturais a fim de os transformar em património, e que procurará cuidar, desfrutar e transmitir.
Esta perspetiva de valorização dos bens culturais, que evolui em função das experiências educativas (Copeland, 2006), conduz a uma nova abordagem de carácter integrador e simbiótico que coloca a ênfase na dimensão relacional existente não só entre os dois termos, mas também entre os elementos que compõem ou constituem cada um deles. Assim, se os bens culturais, que fazem parte do Património, são considerados como tal em virtude do ato de patrimonialização realizado pela sociedade que os detém, ou seja, em virtude da relação existente entre estes bens e as pessoas que os dotam de valores culturais (Carrión-Gútiez, 2015), a educação preocupa-se com as relações entre as pessoas e a aprendizagem.
Se a educação com o património, indicava uma relação que envolve a utilização de bens culturais – móveis, imóveis e imateriais – como recursos educativos, fazendo-se um uso parcial do potencial do Património Cultural para transmitir conhecimentos e dinâmicas relacionadas com a sua conservação e fruição, a educação do património implicava uma conceção de ensino de conteúdos relacionados com elementos patrimoniais ou bens integrados exclusivamente em disciplinas ou temas disciplinares. Por sua vez, a educação para o património está orientada para a realização de abordagens de ensino-aprendizagem relacionadas com o património como objetivo específico do processo educativo, enquanto a educação desde e para o património é uma abordagem relacional que propõe o processo educativo conceptualizado a partir da própria ideia de Património e orientado para a educação patrimonial (Carrión-Gútiez, 2015), sendo esta a abordagem que mais se aproxima de uma conceção construtivista do processo de ensino-aprendizagem, mas também dá lugar a propostas centradas em atitudes e valores – e não apenas ligadas a aspetos conceptuais e elementos patrimoniais específicos ou a níveis e capacidades do recetor –, incorporando a experiência que as pessoas têm do património.
A Educação Patrimonial adquire, assim, um carácter duplamente relacional, onde o património é conteúdo de aprendizagem e as formas de relacionamento implicam identidade, propriedade, cuidado, fruição e transmissão, entre outras (Domingo, Fontal & Ballesteros, 2013). Esta é uma abordagem educativa que tem em conta as características, particularidades, necessidades e expectativas que afetam todas estas variáveis e a sua ligação (Carrión-Gútiez, 2015). Desta forma, o conhecimento crítico e reflexivo do património será facilitado, os valores relacionados com a defesa da diversidade cultural e geo/biodiversidade serão promovidos; a empatia sociocultural será reforçada e a socialização do património será encorajada. Separar o património das pessoas seria dissociar um binómio inseparável: o património é-o porque pessoas o criaram, cuidaram dele, transmitiram-no e atribuíram-lhe valor. O património é variado na sua natureza (tangível e intangível) e na sua tipologia (arqueológico, histórico, documental, artístico…), mas os valores nele projetados são também variados (identitários, sociais, políticos, históricos, económicos, emocionais…) e se não houver diversidade na conceção e desenhos educativos relacionados com o património, não poderemos garantir a diversidade das aprendizagens (Carrión-Gútiez, 2015).
No âmbito da Educação Patrimonial, as linhas de investigação mais consolidadas, que ajudaram a moldar esta área do conhecimento em termos disciplinares, têm incidido sobre: epistemologia e modelos de Educação Patrimonial; observação, análise e avaliação de programas/projetos; integração das Tecnologias de Informação e Comunicação em novos modelos de ensino-aprendizagem; inovação em recursos e instrumentos de interpretação patrimonial; a análise do tratamento do património na legislação educativa e a avaliação do grau de cumprimento dos regulamentos nos programas e ações implementados, ou dos materiais e recursos didáticos utilizados. (Fontal & Ibañez-Etxeberria, 2017), pelo que se prevê que se contarem com o apoio de regulamentos internacionais e planos nacionais de património, marcarão a investigação em Educação Patrimonial nos próximos anos.
Um dos estudos de referência para a análise que aqui se procurou desenvolver é a investigação levada a cabo no âmbito do Observatório de Educação Patrimonial em Espanha, que definiu um método para inventariar, analisar e avaliar programas educativos, e pretende, entre outros objetivos, diagnosticar o estado da Educação Patrimonial, tanto em Espanha como a nível internacional. Inclui vários estudos, nomeadamente sobre programas educativos relacionados com o património cultural imaterial, cujo reconhecimento legislativo é mais recente em comparação com outras tipologias de património, e cujas ações educativas podem ser categorizadas e analisadas, com vista à definição de critérios e parâmetros para a conceção de materiais educativos que possam ser adaptados a contextos diversos, superando o modelo linear e fechado (Fontal & Martinez, 2017). Concluíram que uma grande percentagem de programas analisados não apresenta uma conceção educativa estruturada ou completa, pois não apresentam as características necessárias – fundamentação e adequação ao contexto, objetivos, conteúdos, metodologia, atividades de ensino e aprendizagem, calendarização, adaptação e avaliação – ou são abordados de forma superficial e revelam limitações (Fontal & Martinez, 2017). Mesmo assim, há cada vez mais exemplos de boas práticas em programas relacionados com o património material e imaterial a partir de diferentes abordagens, também no âmbito da educação informal e não formal, com a colaboração de instituições do meio envolvente e diversos agentes educativos. Nos seus procedimentos, muitos destes programas prestam atenção a critérios de ação essenciais, tais como a formação dos educadores, a interdisciplinaridade, a flexibilidade, a diversidade, a participação e a implicação social, a sensibilização, a rentabilidade (social, identitária e cultural), e a qualidade (do desenho, da implementação e dos resultados) (Carrión-Gútiez, 2015). As boas práticas para o funcionamento, proteção e promoção dos museus e da sua diversidade e papel na sociedade têm sido também reconhecidas por redes nacionais e internacionais de museus (UNESCO, 2015) procurando refletir as inovações no terreno.
Será nesta linha de investigação que se situa o estudo aqui realizado e que foi acompanhando as diversas etapas de reflexão e análise do projeto “Pergunta ao Tempo”, mas que não implicam necessariamente uma ordem cronológica; (1) revisão de literatura na área da Educação Patrimonial, Educação em Museus e da metodologia de investigação (sobretudo de natureza qualitativa; (2) a ‘leitura’/análise documental de materiais produzidos e disponibilizados pela unidade de Educação e Mediação Cultural na Casa da Memória de Guimarães, nomeadamente os registos efetuados pelos educadores/mediadores culturais no âmbito das sessões e atividades de desenvolvimento do projeto em cada ano letivo; (3) dos testemunhos disponíveis de participantes e, ainda, (4) da observação não participante, pela investigadora, de algumas atividades realizadas em diferentes momentos do ano letivo de 2021-2022, com vista à compreensão de procedimentos e estratégias educativas utilizadas em interação com o público escolar (docentes e alunos do 4.º ano de escolaridade dos agrupamentos do município) na concretização do projeto “Pergunta ao Tempo”, Além disso, e pelo menos numa primeira fase, permitiria ter uma visão de conjunto dos grupos/turmas e escolas participantes ao longo dos anos de implementação do projeto.
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A Convenção Quadro do Conselho da Europa Relativa ao Valor do Património Cultural para a Sociedade foi assinada em Faro, em 27 de outubro de 2005, e aprovada em Portugal pela Resolução da Assembleia da República n.º 47/2008 (publicação em Diário da República, 1.ª série, N.º 177, 12 de setembro de 2008).
A Casa da Memória de Guimarães (CDMG) abriu as suas portas ao público a 25 de abril de 2016, estando sob a gestão d’A Oficina – Centro de Artes e Mesteres Tradicionais de Guimarães, Cooperativa de Interesse Público, constituída no dia 14 de março de 1989, por iniciativa do Município de Guimarães. A CDMG situa-se na Avenida Conde de Margaride, na antiga fábrica de plásticos “Pátria”, constituindo “um centro de interpretação e conhecimento que dá a conhecer, através da exposição Território e Comunidade, várias perspetivas da memória de um lugar” e, consequentemente, é “um local de encontro, acolhimento, partilha e reflexão sobre Guimarães”, como se refere no Guia da Exposição Permanente da CDMG.2
A abordagem museológica da CDMG tem procurado expor, partilhar, investigar e conservar o património material e imaterial do meio circundante: a memória de Guimarães, assumindo um sentido lato da ideia de património.
A CDMG tem, desde início, o público escolar como um dos destinatários principais dos programas de Educação e Mediação Cultural, tal como é patente no projeto “Pergunta ao Tempo”. A sua oferta pedagógica/educativa articula-se com outros equipamentos municipais, procurando a “problematização e interpretação da construção de múltiplos sentidos do que é apreendido num lugar como a Casa da Memória através de processos de educação não formal” (Marta Silva, 2016, cit. por Marques, 2018: 66) e, por isso, tem por objetivo levar a comunidade à Casa da Memória, dado que constitui uma oportunidade para, através das escolas e, particularmente, das turmas participantes, atrair a comunidade num sentido mais amplo relacionado com o território.
Recentemente, o Relatório Final do Grupo de Projeto Museus no Futuro (Camacho, 2021) veio reforçar a necessidade de o museu “investir na relação contínua e regular com os seus públicos de proximidade – as comunidades locais”, salientando, ainda, que a eficácia das suas ações junto dos públicos não deve ser “avaliada apenas através da medição do número de visitantes, mas também pelo impacto social, económico, cultural e educativo gerado transversalmente nas pessoas, nas comunidades e na sociedade” (Camacho, 2021: 87). Visando o fortalecimento das relações interpessoais, a cidadania ativa, a partilha e a empatia, salienta-se a criação de programas específicos de educação patrimonial para os públicos jovens, que podem incluir, entre outros, “a cocuradoria de exposições e de programação específica”, ou a participação na criação de atividades baseadas em conteúdos digitais, desejavelmente conducentes ao aumento da frequência e potenciadoras de consciencialização e promoção de boas práticas sustentáveis. Além disso, “as residências de artistas e de jovens investigadores poderão contribuir para potenciar a criação, a pluralidade interpretativa dos acervos e novas formas de mediação e de educação não formal” (Camacho, 2021: 91).
Em termos educativos, a CDMG procura conjugar estratégias diversas e dinâmicas ao abordar objetos e histórias, estimulando o aprender fazendo, ao articular os conhecimentos prévios dos visitantes (o contexto pessoal, a sua história) com os conceitos, objetos e histórias presentes nos núcleos expositivos. Tal permite reconhecer as múltiplas leituras, contextualmente fundamentadas, dos núcleos expositivos, assim como as dimensões social e emocional das aprendizagens, múltiplas na sua natureza. Com estes objetivos em vista, a equipa de Serviço Educativo implementou um projeto de recolha de memórias e de património, para fomentar a partilha de memórias pelas crianças de Guimarães e de objetos por elas recolhidos e criados, numa perspetiva de museologia participativa. No folheto de apresentação do projeto, salienta-se o papel de mediação dos professores na promoção, junto das crianças, da (re)apropriação do património cultural, através da linguagem museológica de pesquisa, recolha e comunicação, fomentando a reflexão e a participação ativa da comunidade escolar no espaço da CDMG. Por sua vez, a partilha destas ações pelas crianças dentro da comunidade onde vivem, poderá constituir-se como um importante meio para a valorização do seu património cultural.
O projeto “Pergunta ao Tempo” foi concebido “em parceria com a Câmara e com a vereadora da Educação, o que possibilitou o suporte logístico e financeiro do município no projeto, de forma que não houve, assim, custo para participação das escolas no projeto” (Siebert, 2019: 115). Tendo sido apresentada a proposta do projeto “Pergunta ao Tempo”, em junho de 2016, este teve início no ano letivo de 2016/2017.
A proposta inicial “Pergunta ao Tempo” dirigia-se às turmas de 4.º ano, do 1.º ciclo do ensino básico, das escolas do município (cerca de 70 turmas), mas tal revelava-se complexo em termos práticos, nomeadamente pela falta de recursos humanos disponíveis na CDMG, decidindo-se, por isso, a sua concretização com uma turma por agrupamento de escolas ao longo do ano letivo. Um aspeto facilitador foi o facto de o número de núcleos (e respetivas secções) da Casa da Memória coincidir com o número de Agrupamentos de Escolas do município de Guimarães (catorze). Apesar disso, em outubro de 2016, após reunião com os coordenadores de 1.º ciclo do ensino básico dos agrupamentos, que decidiram as turmas participantes, foram distribuídos 13 núcleos para igual número de agrupamentos. Nesta 1.ª edição do projeto “Pergunta ao Tempo”, o Agrupamento de Escolas Arqueólogo Mário Cardoso não participou com qualquer grupo de alunos. Entre 2017/18 e 2019/20 participaram 14 agrupamentos, aos quais foi atribuído, anualmente, um dos 14 núcleos. Já no ano letivo de 2020/21, durante o qual se verificou o agravamento da pandemia de Covid-19, apenas participaram 10 escolas/agrupamentos (não participaram nos trabalhos finais os agrupamentos de Abação, Fernando Távora, Abel Salazar e Santos Simões). Entretanto, já em março de 2020, devido à pandemia de Covid-19, havia sido necessário reformular e adaptar o projeto, nomeadamente a conclusão dos trabalhos das turmas, anteriormente previsos, e a sua exposição na Casa da Memória, que seria substituída por uma “Cápsula do Tempo”, uma caixa de memórias dos alunos acerca das suas experiências no contexto da pandemia de Covid-19.
As preocupações sanitárias decorrentes da pandemia Covid-19 impuseram novos procedimentos e regras para visitas e atividades, mas também abriram possibilidades de mobilização dos mais novos, dos educadores e docentes e das famílias, para programas de educação artística, cultural e patrimonial, explorando o território e, por meios digitais, disponibilizando recursos educativos online. Além disso, medidas como as que se apresentam no Plano Nacional das Artes abrem a porta “para assegurar com o Ministério da Educação que a visita a estas entidades constitua uma componente ativa do currículo que concorre para a consecução do Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória, definido pelo Ministério da Educação” (Camacho, 2021: 91).
Como referido antes, dado que os núcleos da CDMG, e respetivas secções, totalizam catorze temas, estes foram atribuídos anualmente a cada uma das turmas participantes no projeto “Pergunta ao Tempo” e representantes de cada um dos catorze agrupamentos de escolas do município de Guimarães. Excetuam-se o primeiro e o último ano deste quinquénio objeto de análise: no primeiro caso, pela não participação de um agrupamento, o que levou à não inclusão de um dos temas/secções – 3.3. Outros Futuros – no projeto do ano letivo de 2016/2017; no último caso, com o agravamento da pandemia Covid-19 e os constrangimentos sucessivos, sobretudo no primeiro semestre do ano letivo de 2020/2021, participaram apenas dez agrupamentos, não tendo sido atribuídos os temas/secções 1. Cartografias e Território de Guimarães; 3.1. Futuros Incompletos de Guimarães; 5.1. A Fundação da Nacionalidade; e 5.3. A Industrialização no Vale do Ave. Note-se que, na presente análise, não foram incluídos os dados referentes ao ano letivo de 2021/2022, durante o qual participaram 13 agrupamentos de escolas do município (todos à exceção do AE D. Afonso Henriques), uma vez que este ano letivo é posterior ao período objeto desta investigação.
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A exposição permanente da CDMG distribui-se por dois edifícios paralelos, designados por nave do Território e nave da Comunidade. Na nave do Território encontram-se três núcleos, dois deles com três secções: 1. Cartografias e Território de Guimarães; 2. Guimarães Representada – 2.1. Documentos e Imagens; 2.2. Refotografias de Guimarães; 2.3. Lugar de Filmagem: Guimarães –; 3. Utopias e Outros Futuros – 3.1. Futuros Incompletos de Guimarães; 3.2. Utopia e Distopia; 3.3. Outros Futuros. Por sua vez, na nave da Comunidade situam-se quatro núcleos, estando um deles organizado em quatro secções: 4. Atlas de Curiosidades; 5. Objetos na Memória – 5.1. A Fundação da Nacionalidade; 5.2. Sociedades Rurais e Festividades; 5.3. A Industrialização no Vale do Ave; 5.4. Contemporaneidade –; 6. Biografias Históricas; 7. Memórias e Testemunhos.
Em termos metodológicos, a presente investigação assume uma natureza essencialmente qualitativa (Creswell, 2007), com atenção ao processo e à construção de significados durante esse processo (Bogdan & Biklen, 2006), mais do que aos resultados. Enquanto a investigação quantitativa tem estado associada a técnicas como os questionários autoadministrados, a entrevista e a observação estruturadas, a análise de estatísticas oficiais e preocupações com a medida e a generalização, a investigação qualitativa é tipicamente associada a técnicas de observação participante, a entrevistas semiestruturadas e não estruturadas, a análise de discurso ou outras, com preocupações relativas aos pontos de vista dos indivíduos e aos detalhes na elucidação do contexto (Pinto, 2016:165-166). Do ponto de vista qualitativo, o enfoque centra-se nos sujeitos que interpretam as situações, concebem estratégias, mobilizam os recursos e que agem em função dessas interpretações (Guerra, 2006). Neste caso, o enfoque situa-se na relação entre a unidade de Educação e Mediação Cultural na Casa da Memória e as escolas do município de Guimarães, mais especificamente as turmas de 4.º ano e respetivos professores, participantes no projeto “Pergunta ao Tempo” em cada um dos cinco anos analisados.
As técnicas de recolha de dados utilizadas no contexto das metodologias qualitativas, nomeadamente nas Ciências Sociais, agrupam-se geralmente em três grandes tipos: o inquérito, por entrevista ou por questionário; a observação direta e a análise documental. No primeiro caso, destaca-se a entrevista semiestruturada que pode proporcionar informação diversa acerca das experiências, motivações e pensamentos das pessoas, podendo acontecer que, durante a entrevista, seja focada uma faceta do estudo que não tinha sido prevista na sua planificação (Drever, 1995). Quando comparadas com os questionários, as entrevistas são mais flexíveis, podendo aprofundar a compreensão e a explicação num contexto específico, enquanto os questionários apresentam um quadro mais vasto, mas também mais superficial (Bogdan & Biklen, 2006). O uso de entrevistas semiestruturadas após a observação permite que se “enriqueça a informação acerca daquilo que os indivíduos fazem, com dados sobre a forma como pensam” (Drever, 1995: 8, tradução nossa), tendo, por isso, a vantagem de permitir encontrar explicações explorando pontos de vista individuais, nomeadamente quando se redefinem questões, embora sem se afastarem demasiado da estrutura base, de forma a permitir a comparação entre respostas de diferentes indivíduos.
Uma das formas de recolha de dados mais versáteis é a observação. Daí o cuidado necessário na seleção das estratégias de observação e de registo adequadas ao estudo a realizar, o que pode ser determinado pelo tipo de questões a colocar, o fenómeno a observar e o contexto no qual se faz a observação. Por isso, ao utilizarmos a observação como técnica de pesquisa, devemos “tornar estranho o familiar” (Simpson e Tuson, 1995: 3, tradução nossa), ou seja, tentar afastar-nos de interpretações automáticas acerca do que está a acontecer e tentar ver as situações a partir de diferentes perspetivas. A adição de dados recolhidos por observação enriquece a compreensão das situações, podendo ir desde o simples olhar até à explicação de interações complexas, mas exige disponibilidade de tempo, esforço e recursos, e pode haver suscetibilidade ao viés do observador. Por isso, mesmo numa investigação em pequena escala, pode ser necessário utilizar outras técnicas de recolha de dados além da observação para assegurar validade à informação recolhida (Pinto, 2016). Parece-nos, por isso, adequado recorrer a uma combinação de várias técnicas numa mesma investigação.
Quanto à análise documental, pode ser encarada como uma análise de conteúdo que incide sobre documentos relativos a um local ou situação, correspondendo, do ponto de vista técnico, a uma “observação de artefactos escritos” (Lessard-Hébert, Goyette e Boutin, 2008: 143, tradução nossa) e faz-se principalmente por classificação-indexação (Bardin, 2009). A análise de conteúdo pode incluir, quer uma análise de “significados” – por exemplo, a análise temática que permite descobrir os “núcleos de sentido” que compõem a comunicação e cuja presença ou frequência pode ser interpretada – quer dos “significantes”, como no caso da análise lexical ou da análise de procedimentos (Bardin, 2009: 104). A análise documental pode, ainda, ser usada para ‘triangular’ os dados obtidos através de outras técnicas, assumindo uma função de complementaridade na investigação qualitativa. Na presente investigação a análise documental assume um lugar de destaque, uma vez que os documentos que serviram de base para a implementação, concretização e divulgação do projeto “Pergunta ao Tempo” em cada um dos cinco anos, constituem fontes de informação de interesse para uma análise comparativa dos dados, com vista a uma compreensão das mudanças e permanências ao longo do processo.
A natureza qualitativa deste estudo descritivo prende-se, designadamente, com as técnicas e instrumentos utilizados para recolha de informação e análise dos dados, tais como a análise de conteúdo a partir dos documentos produzidos pela unidade de Educação e Mediação Cultural na Casa da Memória de Guimarães, dos registos efetuados pelos educadores/mediadores culturais no âmbito das oficinas e sessões de acompanhamento do projeto nas escolas em cada ano letivo, dos testemunhos disponíveis de participantes e, ainda, da observação não participante, pela investigadora, de algumas atividades realizadas em diferentes momentos do ano letivo de 2021-2022, com vista à compreensão de estratégias e procedimentos utilizados na interação com os alunos do 4.º ano de escolaridade dos agrupamentos do município e respetivos professores, no desenvolvimento do projeto “Pergunta ao Tempo”.
Durante os anos letivos em que foi implementado o projeto “Pergunta ao Tempo”, o plano de trabalhos/atividades seguiu, em geral, um percurso que iniciava com a apresentação do projeto aos docentes das turmas do 4.º ano do 1.º ciclo do ensino básico do município, propostas pelos respetivos agrupamentos escolares, seguidas da visita orientada à CDMG para cada uma das turmas selecionadas e, posteriormente, as oficinas de educação para o património e restantes (três) sessões de acompanhamento dos projetos nas escolas. A etapa final, e corolário do projeto anual, consiste na exposição dos trabalhos dos alunos em vitrine a ser incluída (durante alguns meses) no circuito expositivo da Casa da Memória.
Para a elaboração dos materiais de apoio à implementação do projeto junto das turmas de 4.º ano, e dadas as características dos núcleos expositivos da CDMG com notório enfoque no Património Cultural Imaterial, sobretudo no que respeita à nave da Comunidade, uma fonte essencial de inspiração foi um recurso disponibilizado pela Direção-Geral do Património Cultural e apresentado às escolas desde 2013 através de uma parceria com a Direção-Geral de Educação: o “Kit de Recolha de Património Imaterial” (Costa, 2011). De acordo com a informação constante na página Web “MatrizPCI”, o sistema de gestão do Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, o “Kit de Recolha de Património Imaterial” foi concebido como instrumento destinado a promover a valorização do Património Cultural Imaterial pelos jovens e a sua participação ou iniciativa em ações de salvaguarda do património da respetiva comunidade. Inclui um conjunto de “Fichas de Campo” para registo, não só de manifestações de Património Cultural Imaterial – Saberes e Ofícios Tradicionais; Tradições Festivas; Tradições Orais – mas também para registo de Património Material, Móvel e Imóvel, com vista a uma abordagem integrada do Património, em linha com as recomendações da UNESCO e da legislação nacional. A sua utilização foi pensada essencialmente para os jovens dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, em contexto escolar ou em atividades formativas e pedagógicas promovidas por outras entidades, nomeadamente os Museus, através dos respetivos Serviços Educativos, visando também a promoção do diálogo intercultural, ao sensibilizar os jovens para as tradições inscritas no tempo longo da cultura popular portuguesa e também as tradições das comunidades de origem não portuguesa radicadas em Portugal, que constituem importante fator da sua identidade. Mas é, sobretudo, a nível local que o este instrumento tem aplicabilidade, ao permitir o aprofundamento da relação dos jovens com a sua comunidade e a valorização do seu Património Cultural.
Por todas as razões acima apontadas, o “Kit de Recolha de Património Imaterial” revelava reunir características essenciais para fundamentar e, sobretudo, fornecer orientações metodológicas e sugestões práticas para a concretização do projeto “Pergunta ao Tempo”, que se insere numa comunidade local com um património histórico preservado e valorizado, mas cujo Património Cultural Imaterial importa também reconhecer e atribuir significado. Inspirado neste recurso, foi produzido o livro/caderno de apoio “Como Pergunto ao Tempo? Diário de Bordo” (Figura 1), na 1.ª edição do projeto (ano letivo de 2016/2017) e o livro/caderno de apoio “Como Pergunto ao Tempo? Guia de Viagem” (Figura 2), na 2.ª edição (ano letivo de 2017/2018), com texto/orientação do projeto de Raul Pereira e coordenação de Marta Silva, assim como na 3.ª edição (ano letivo de 2018/2019), com texto de Raúl Pereira e acompanhamento criativo/orientação do projeto de Francisco Neves (Figura 3).
Relativamente às características deste material de apoio, os documentos “Como Pergunto ao Tempo? Diário de Bordo”, da 1.ª edição, e “Como Pergunto ao Tempo? Guia de Viagem”, da 2.ª e 3.ª edições, eram de carácter informativo, enquanto as “Fichas de Campo” anexas aos anteriores, destinavam-se a serem preenchidas pelas turmas participantes de acordo com a recolha efetuada junto da sua comunidade e do tema de trabalho. Foi criada também uma caixa (de cartão) com a identificação do projeto, que seria entregue a cada professor e turma participante para que nessa espécie de baú depositassem materiais encontrados, pesquisas realizadas, registo de questões e de atividades desenvolvidas com vista à produção do trabalho final a ser incluído, temporariamente, na exposição da CDMG.
A partir da 4.ª edição do projeto (ano letivo 2019/2020), o material de apoio foi objeto de uma reformulação profunda. Surge o “Caderno de Investigador Artista” (Figuras 4 e 5), com a direção criativa de Francisco Neves, coordenação de João Lopes e ilustração/design de Eduarda Fontes e Susana Sousa. É de salientar que, tanto o “Como Pergunto ao Tempo? Diário de Bordo” como o “Como Pergunto ao Tempo? Guia de Viagem”, incluíam, nas duas páginas finais, uma introdução para cada uma das fichas de campo que surgiam em anexo a este pequeno livro. Tal não acontece no “Caderno de Investigador Artista”, que inclui diversas páginas ‘em branco’ para o aluno usar livremente.
Uma análise de conteúdo dos materiais de apoio das três primeiras edições do projeto e das restantes edições revela diferenças substanciais, que vão muito além do título e da extensão do texto:
a) Realizou-se uma busca terminológica quantitativa, por frequência simples, centrada em conteúdos explícitos (Piñuel-Raigada, 2002; Pinto & Molina, 2015). A pesquisa incidiu nos documentos de apoio ao projeto, produzidos e usados no período em análise – “Como Pergunto ao Tempo? Diário de Bordo”; “Como Pergunto ao Tempo? Guia de Viagem” e “Caderno de Investigador Artista” – para o termo património (inspirado em Pinto e Molina, 2015), usando a raiz patrim* para que a pesquisa incluísse património/s, patrimonial/ais; e outros termos com ele relacionados: arte* (arte/s; artesanato); artis* (artista/s; artístico/s); comuni* (comunidade/s; comunitário/a); cultur* (cultura/s, cultural/ais, multicultural/ais, intercultural/ais); identi* (identidade; identitário); mater* (material/ais; imaterial/ais); memoria* (memória, memorial); muse* (museu/s, museográfico/a); natur* (natural; natureza); tempo* e tradi* (tradição/ões; tradicional/ais), excluindo título, ficha técnica e índice. Em relação aos dados apresentados abaixo, é necessário clarificar que em alguns casos a frequência do termo se deve, em parte, ao local ou ao tema do projeto. Assim, por exemplo, o termo “memória” surge 34 vezes no “Como Pergunto ao Tempo? Diário de Bordo” (2016/2017) e 26 vezes no “Como Pergunto ao Tempo? Guia de Viagem” (2017/2018 e 2018/2019), sendo que 12 correspondem à expressão “Casa da Memória”, em cada um dos documentos, e 7 em 10 vezes no “Caderno de Investigador Artista” (2020/2021), e o termo “tempo” surge 62 vezes no “Como Pergunto ao Tempo? Diário de Bordo” (2016/2017) e 52 vezes no “Como Pergunto ao Tempo? Guia de Viagem” (2017/2018 e 2018/2019), porém surge apenas surge 2 vezes no “Caderno de Investigador Artista” (2019/2020 e 2020/2021). No entanto, a maior ou menor presença, ou mesmo a ausência de alguns termos necessita uma análise mais atenta, como se discute nos pontos seguintes.
b) Paralelamente, procedeu-se a uma análise qualitativa relacionada com o contexto em que se incluem os termos pesquisados (Cuenca, Estepa & Martín, 2011; González-Monfort, 2011; Pinto & Molina, 2015). O estudo de caso comparativo, usando documentos curriculares portugueses e espanhóis (Região de Múrcia) correspondentes ao ensino básico (ciências sociais, educação artística, cidadania e ciências naturais), realizado por Pinto e Molina (2015), evidenciou resultados de análise de conteúdo que revelaram a existência de um fosso significativo entre o potencial didático do património para o ensino das ciências sociais e a sua presença nas diretrizes curriculares analisadas, independentemente de algumas diferenças entre os dados dos documentos espanhóis e portugueses. Embora o presente estudo tenha características diferentes quanto à tipologia e quantidade de documentos analisados, e não tendo por objetivo estabelecer comparações com outros estudos mais amplos, revela nesta breve análise de conteúdo que nos documentos dos 3 primeiros anos – “Como Pergunto ao Tempo? Diário de Bordo” e “Como Pergunto ao Tempo? Guia de Viagem” – há uma frequência de termos muito superior à dos documentos dos 2 últimos anos analisados – “Caderno de Investigador Artista” – sobretudo no que respeita aos termos “tempo”, “tradição/tradicional” e “cultura/cultural”, excetuando-se o termo “artista/artístico” que apresenta maior frequência no documento de 2019/2020.
Se é verdade que estes materiais constituem apenas uma parte do processo, um instrumento de apoio à atividade de pesquisa dos alunos, havendo um conjunto de sessões (oficina e três sessões de acompanhamento dinamizadas pela unidade de Educação e Mediação Cultural na CDMG, durante as quais professores e alunos são envolvidos na reflexão e discussão sobre as possibilidades de recolha de património local, de diferentes tipologias e usando diversas estratégias, também é necessário lembrar que estes documentos permanecem com os alunos ao longo do ano letivo, constituindo, por isso, um referencial ao qual podem voltar a todo o momento durante o processo, inclusive para registar ideias, questões, esboços criativos, em espaço para tal disponibilizado. A presença de termos como “comunidade”, “material/imaterial”, “natural”, “museu”, “tempo” e até mesmo “tradição” e “identidade”, além de “património”, “cultura/cultural“ e “memória”, nos documentos de apoio, em texto a ser (re)lido em diferentes momentos ao longo do processo, poderia revelar-se de grande potencialidade para o reconhecimento e aplicação destes conceitos pelos jovens, ao longo do projeto, mas também em termos futuros, na(s) comunidade(s) onde estão inseridos.
Figura 1
Como Pergunto ao Tempo? Diário de Bordo. 2016/2017. Fonte: CDMG.
Figura 2
Como Pergunto ao Tempo? Guia de Viagem. 2017/2018. Fonte: CDMG.
Figura 3
Como Pergunto ao Tempo? Guia de Viagem. 2018/2019. Fonte: CDMG.
Figura 4
Caderno de Investigador Artista. 2019/2020. Fonte: CDMG.
Figura 5
Caderno de Investigador Artista. 2020/2021. Fonte: CDMG.
Relativamente a este item3, procura-se cruzar uma análise que tem em conta quer os objetivos em termos do público quer as principais estratégias de intervenção. Nesse sentido, podemos considerar, antes de mais, quatro categorias pertinentes quando se trata de focalizar os impactos sobre as organizações culturais (Bollo, Da Milano, Gariboldi & Torch (2017) e se associam a quatro fatores: o “fator lugar”, criando ligações e construindo relações baseadas num sítio físico; o “fator digital”, considerado chave alcançar o público e fomentar o envolvimento; o “fator pessoas”, considerando a formação do pessoal e o desenvolvimento das suas aptidões, competências e liderança como chave para diferentes experiências e para a mudança; o “fator participação”, base da participação/cocriação ativa, particularmente interessante em termos de impactos na organização.
Centrada nas relações comunitárias, a ideia de “participação activa” relacionada com o sector museológico foi exposta por Simon (2010, cit. Bollo, Da Milano, Gariboldi & Torch, 2017: 73), que categoriza o paradigma participativo em quatro tipos principais: (1) projetos contributivos, em que os visitantes são solicitados a fornecer objetos, ações e ideias limitadas e especificadas num processo controlado institucionalmente; (2) projetos colaborativos, onde os visitantes são convidados a agir como parceiros ativos na criação de projetos institucionais gerados e controlados em última instância pela instituição; (3) projetos cocriativos, onde membros da comunidade trabalham em conjunto com o pessoal institucional desde o início para definir os objetivos do projeto e para gerar o programa ou exposição com base nos interesses da comunidade; e (4) projetos de acolhimento, onde a instituição disponibiliza uma parte das suas instalações e/ou recursos para apresentar programas desenvolvidos e implementados pelo público.
No caso do projeto “Pergunta ao Tempo”, numa perspetiva de museologia participativa, a unidade de Educação e Mediação Cultural, no seguimento dos objetivos da CDMG, pretende, antes de mais, que a comunidade veja a Casa da Memória como uma casa onde se guardam e interpretam as suas memórias, “um lugar de encontro da comunidade com o exterior e da comunidade consigo própria”, que “estimula novas leituras e abordagens à construção da memória do território e das pessoas que o habitam, junto das comunidades locais, através do seu envolvimento e participação em processos de recolha, registo e mediação”. Assim, no seguimento da tipologia acima referida e num primeiro olhar, o projeto poderia alinhar-se- com o terceiro tipo de participação (projetos cocriativos). Uma análise mais atenta dos procedimentos, leva-nos a enquadrar o projeto no segundo tipo (projetos colaborativos) pois as linhas orientadoras do programa foram definidas e dinamizadas pela equipa de Educação e Mediação Cultural da CDMG. Além disso, se no início do projeto, a informação dada aos participantes era de que a temática seria sorteada; esta viria a ser definida pela equipa de Educação e Mediação Cultural ligada ao projeto, com base em pesquisa prévia acerca da comunidade local onde se insere cada escola participante e consoante as necessidades de recolha que se fosse sentindo. Por outro lado, essa definição prévia permitia direcionar a visita de cada grupo e evitar que a mesma temática fosse repetida caso uma escola do mesmo agrupamento tivesse participado na edição anterior do projeto (Siebert, 2019). Não deixa, no entanto, de se atribuir um lugar fundamental à participação dos professores, alunos e famílias de cada uma das turmas do 4.º ano de diferentes agrupamentos de escolas, que são encorajadas a refletir em torno da(s) memória(s) e das formas como a(s) recolhem e tratam e, em sequência, à construção conjunta de vitrinas de reinterpretação dos núcleos da CDMG, através da recolha de objetos/histórias/testemunhos, junto das famílias, e através da expressão artística das crianças (com o auxílio de uma caixa arquivo e de um livro/caderno de apoio), com vista à abertura de uma exposição temporária, no final do ano letivo. “Depois de atribuído um dos temas, cada professor tem depois liberdade para mobilizar os conteúdos que lhe parecerem adaptar-se melhor. Só não podem perder o norte de Pergunta ao Tempo: o património. O de Guimarães e o de cada uma das freguesias das escolas” (A Oficina, 2019). O resultado final de um ano de investigação dos participantes no projeto, que implica a preparação de uma instalação/vitrine por cada turma, é apresentado numa exposição coletiva quase no final do ano letivo e que pode ser visitada ao longo de alguns meses.
É fundamental a divulgação da exposição dos trabalhos realizados, que intercalam com os objetos da exposição permanente, nos catorze núcleos da CDMG. Se, por um lado, as novas tecnologias ainda constituem potenciais barreiras para pessoas e museus que não têm acesso a elas, ou o conhecimento e competências para usá-las de forma efetiva, por outro, não podemos deixar de reconhecer o seu papel crescente na vida quotidiana e o seu elevado potencial para promover os museus. Além das oportunidades em termos de preservação, de estudo, de criação e de transmissão do património e do respetivo conhecimento, possibilitam a interação com públicos existentes e a divulgação de projetos que podem cativar potenciais visitantes e parceiros. Diversos estudos sublinham o facto de as pessoas utilizarem os media digitais principalmente como complemento, e não como substituto, da experiência ao vivo e que as pessoas que procuram conteúdos culturais em linha tendem a participar nas atividades culturais também através de eventos ao vivo, sugerindo que os media digitais são mais valiosos como meio de chegar a audiências que já estão culturalmente envolvidas (Bollo, Da Milano, Gariboldi & Torch, 2017). Pode ser essa uma das potencialidades dos vídeos produzidos pela CDMG e apresentados nas suas páginas em redes sociais online, nomeadamente para divulgação do processo desenvolvimento do projeto e de montagem e inauguração da primeira exposição temporária, no final do ano letivo de 2016/2017 e, ainda, no final do ano letivo de 2019/2020, no decorrer da pandemia de Covid-19, que levou à interrupção dos trabalhos que já tinham sido iniciados com as escolas, entretanto encerradas ao ensino presencial. Neste caso, a equipa de Educação e Mediação Cultural reestruturou e adaptou o programa às novas circunstâncias de forma a concluírem o trabalho iniciado pelas escolas e pelas comunidades, surgindo a ideia da “Cápsula do Tempo” para guardar os registos das crianças que agora “contam ao tempo” o que estão a viver durante esse período de confinamento. Esses testemunhos foram reunidos na caixa que ficara na sala de aula e que se tornava agora numa “cápsula do tempo”, tal como se descreve no vídeo divulgado na página da CDMG na rede social Facebook. Ainda durante o ano de 2020, este processo foi notícia na comunicação social, com o título “Projeto educativo ‘Pergunta ao Tempo’ transforma-se em ‘Cápsula do Tempo’ em Guimarães”. Embora este tipo de divulgação tenha sido fundamental em tempo de pandemia, não significa que tenha de circunscrever-se a este contexto; pode e deve acompanhar o projeto “Pergunta ao Tempo”4. Em relação à utilização da “Cápsula do Tempo” como recetáculo dos trabalhos dos alunos, é uma conceção de baú/expositor interessante que pode ser utilizada em situações ‘normais’ pós pandemia, nomeadamente para arquivar os registos das pesquisas realizadas para elaboração do trabalho final que é exposto na CDMG, e que poderá ser visualizado, posteriormente, por futuros alunos, até para darem algum tipo de continuidade/(re)construção ao projeto.
(3)
Apresenta-se aqui apenas uma síntese – dadas as características e dimensões do artigo – de uma investigação mais ampla cujos resultados da análise de registos de observação e de testemunhos disponíveis em entrevistas de seguimento, não estruturadas, com características descritivas, além dos da análise documental, integram um Relatório solicitado pela unidade de Educação e Mediação Cultural d’A Oficina.
(4)
Mesmo não estando incluído na presente análise, regista-se aqui a divulgação feita na página da CDMG relativamente à 6.ª edição do “Pergunta ao Tempo”, no ano letivo de 2021/2022, no qual participaram 13 turmas do 4.º ano do 1.º CEB, num total de 241 crianças, que “desenvolveram estratégias criativas de pesquisa, recolha e documentação do património cultural do território, na sua materialidade e imaterialidade, numa relação de proximidade com crianças, famílias, professores e comunidade local. Da experiência, para além de visitas e oficinas, resultou a exposição final, com objetos, histórias e testemunhos que coabitam e dialogam com o próprio espaço museológico da Casa da Memória” (disponível em https://www.casadamemoria.pt/detail-eventos/20220622-pergunta-ao-tempo/). Regista-se também o vídeo sobre a inauguração da referida exposição (disponível em https://fb.watch/fVuPqZleLg).
A educação é uma das funções fundamentais dos museus, que atuam não só na educação formal e informal, mas também na aprendizagem ao longo da vida, através do desenvolvimento e da transmissão do conhecimento, de programas educativos e pedagógicos, em parceria com outras instituições, especialmente as escolas (UNESCO, 2015). Tem sido, esse, um dos desígnios do projeto “Pergunta ao Tempo” e da Casa da Memória de Guimarães, que procura envolver as escolas do município e, em articulação, as respetivas comunidades, no conhecimento e reinterpretação de temas da sua coleção, no desenvolvimento da criatividade, na consciencialização sobre a importância de se preservar o património – cultural ou natural, imóvel ou móvel, material ou imaterial – e na manifestação de ações de cidadania ativa, nomeadamente pela participação cultural. No entanto, reforçar a participação cultural não é apenas uma questão de tornar a cultura acessível (Bollo, Da Milano, Gariboldi & Torch (2017), dado que há ligações entre a participação cultural e outras dimensões das nossas vidas, como a cidadania, o bem-estar e a inovação que são influenciadas por vínculos coletivos e criativos. A criação de redes de colaboração entre instituições culturais e escolares no âmbito da Educação Patrimonial, tem aqui um papel fundamental.
Organizações culturais, ou entidades a elas pertencentes, como é o caso d’ A Oficina e da Casa da Memória de Guimarães, podem dar uma contribuição proactiva para a Educação Patrimonial, trabalhando em estreita colaboração com as escolas e envolvendo os mais jovens. A colaboração é possível tanto em atividades curriculares como extracurriculares, ligando autarquia e escolas/agrupamentos, desenvolvendo atividades de pesquisa ou artísticas e iniciativas culturais dirigidas aos alunos, às suas famílias e à comunidade local. A este nível – assim como no âmbito nacional – podem definir-se critérios para orientar programas e parcerias entre instituições culturais e escolas, com vista a uma cooperação mais frutuosa e uma melhoria das ações ao nível da Educação Patrimonial. Entretanto, a divulgação de boas práticas pode ser estimulante, para se ultrapassarem obstáculos existentes, e motivadora, para que novos participantes adiram e se envolvam em atividades comunitárias relacionadas com o património local, muitas vezes esquecido no espaço público. Há, também, que encorajar, sobretudo a nível local, iniciativas que partem da base, das pequenas comunidades, para o topo, no sentido de se recuperar memórias, de se cuidar e promover o património cultural, (re)visibilizando práticas tradicionais e partilhando saberes.
Um último apontamento refere-se à avaliação, que deve fazer parte de qualquer projeto. Um aspeto a ter em conta é, desde logo, uma abordagem com base numa avaliação qualitativa bem ponderada, uma vez que os dados quantitativos podem ser medidos principalmente a longo prazo, muitas vezes para além do ciclo de vida do projeto. Não quer isto dizer que a avaliação só deva ser efetivamente realizada no final de um projeto, para averiguar o crescimento e diversificação do público, ou os impactos a nível cultural, educativo ou social, mas quando se está perante projetos de curto prazo, será demasiado limitada para produzir resultados baseados em evidências, sobretudo quando os grupos alvo são muito específicos. Por isso, os projetos necessitam incorporar a perspetiva estratégica de longo prazo como pano de fundo para assegurar a sustentabilidade futura. Para tal, é necessário ter um bom conhecimento dos públicos-alvo e incluir ações destinadas a reuni-los. O “Pergunta ao Tempo” da CDMG tem envolvido no projeto, desde 2016, centenas de crianças do 4.º ano das escolas/agrupamentos do concelho de Guimarães, cativando frequentemente as suas famílias e outros membros da comunidade local para as atividades criativas de pesquisa do património cultural do território e a partilha de saberes, por sua vez reunidos na exposição final.
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1—A Convenção Quadro do Conselho da Europa Relativa ao Valor do Património Cultural para a Sociedade foi assinada em Faro, em 27 de outubro de 2005, e aprovada em Portugal pela Resolução da Assembleia da República n.º 47/2008 (publicação em Diário da República, 1.ª série, N.º 177, 12 de setembro de 2008).
2—A exposição permanente da CDMG distribui-se por dois edifícios paralelos, designados por nave do Território e nave da Comunidade. Na nave do Território encontram-se três núcleos, dois deles com três secções: 1. Cartografias e Território de Guimarães; 2. Guimarães Representada – 2.1. Documentos e Imagens; 2.2. Refotografias de Guimarães; 2.3. Lugar de Filmagem: Guimarães –; 3. Utopias e Outros Futuros – 3.1. Futuros Incompletos de Guimarães; 3.2. Utopia e Distopia; 3.3. Outros Futuros. Por sua vez, na nave da Comunidade situam-se quatro núcleos, estando um deles organizado em quatro secções: 4. Atlas de Curiosidades; 5. Objetos na Memória – 5.1. A Fundação da Nacionalidade; 5.2. Sociedades Rurais e Festividades; 5.3. A Industrialização no Vale do Ave; 5.4. Contemporaneidade –; 6. Biografias Históricas; 7. Memórias e Testemunhos.
3—Apresenta-se aqui apenas uma síntese – dadas as características e dimensões do artigo – de uma investigação mais ampla cujos resultados da análise de registos de observação e de testemunhos disponíveis em entrevistas de seguimento, não estruturadas, com características descritivas, além dos da análise documental, integram um Relatório solicitado pela unidade de Educação e Mediação Cultural d’A Oficina.
4—Mesmo não estando incluído na presente análise, regista-se aqui a divulgação feita na página da CDMG relativamente à 6.ª edição do “Pergunta ao Tempo”, no ano letivo de 2021/2022, no qual participaram 13 turmas do 4.º ano do 1.º CEB, num total de 241 crianças, que “desenvolveram estratégias criativas de pesquisa, recolha e documentação do património cultural do território, na sua materialidade e imaterialidade, numa relação de proximidade com crianças, famílias, professores e comunidade local. Da experiência, para além de visitas e oficinas, resultou a exposição final, com objetos, histórias e testemunhos que coabitam e dialogam com o próprio espaço museológico da Casa da Memória” (disponível em https://www.casadamemoria.pt/detail-eventos/20220622-pergunta-ao-tempo). Regista-se também o vídeo sobre a inauguração da referida exposição (disponível em https://fb.watch/fVuPqZleLg/).
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