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Abertura 16

Catarina Pereira
Diretora Artística da CDMG
e Artes Tradicionais

A Casa da Memória de Guimarães é um lugar que nos permite deixar correr livremente a imaginação pelo grande plano que é o território de Guimarães. Parte do percurso expositivo da Casa remete-nos, precisamente, para lugares de ficção e interpretações de novas possibilidades sobre a cidade e o seu concelho.

Fartamo-nos de repetir que o nosso é um tempo em que recebemos quase toda a nossa informação por via digital. Podemos, então, imaginar a Casa da Memória como um receptor dos mais diversos elementos de toda a ordem que aqui chegam por formas outras que não as convencionais — um pouco à semelhança das ondas que percorrem os cabos acelerados de fibra óptica ou das ondas de rádio que nos permitem a comunicação wi-fi, que necessitam de aparelhos receptores: simples nódulos da rede quase infinita em que se tornou a Internet.

Tal como os dispositivos tecnológicos, a Casa da Memória recebe, guarda e disponibiliza informação no seu espaço físico, sendo o maior exemplo disso o seu Repositório; mas, ao fazê-lo, ela torna-se também num pólo emissor e parte de uma grande rede que inclui o esforço de instituições públicas e privadas, de escolas, de associações, de colectividades desportivas, de investigadores e académicos, de profissionais nas mais diversas áreas, etc.

O que nos pode ligar, enquanto cidadãos e cidadãs, num mundo crispado e dividido, é uma cadeia de corpos receptores e irradiadores — o tão discutido diálogo de que todos e todas agora precisamos —, aproximando-nos em grupos geradores de ondas estáveis e sem quedas de rede. Idealmente, devemos partilhar a maior parte do conteúdo e informação possível entre todos e todas e de forma simplificada, para que a mesma possa ser facilmente percepcionada. Só assim ela se pode disseminar como queremos por toda a comunidade vimaranense e chegar aos de fora que a desejem conhecer. Esta é a complexa web (teia), onde o dar e receber é fundamental para que o processo de conexão se efective e se reforce cada vez mais, como acontece com o trabalho da equipa de Educação e Mediação, do qual sobressai, na programação anual da Casa, o projecto educativo Pergunta ao Tempo.

É deste número 536 da Avenida Conde Margaride que, sobre uma velha fábrica de plásticos, foi erigido um abrigo para a memória e para novo conhecimento (patrimonial, histórico, científico, criativo, artístico, etc.), convertendo-o em lugar de criação a partir do que se vai recebendo de todo o lado: um ponto inesgotável das histórias e da história de Guimarães. E que são as histórias senão as pessoas comportando-se e agindo em rede?

Assim, A Oficina apresenta, neste ano de 2022, o número XVI da Veduta, revista que se destaca na oferta editorial pelo cuidado com que observa o mundo a partir de Guimarães — ela própria mais um nódulo numa torrente de informação inesgotável, mas certamente uma ponte de passagem que queremos obrigatória para quem se dedica a olhar o horizonte do património nas suas múltiplas dimensões.

A Veduta conserva, há dezasseis anos, inicialmente em papel e agora em formato digital, a memória desta Casa. Tenta estendê-la pelo mundo. É através dela que faremos reverberar pelos cabos e ondas da grande rede toda a dinâmica do que almejamos para um futuro próximo.